jueves, 3 de diciembre de 2009

LIVROS: Vinho e Guerra



Neste período de festas de final de ano, em que os dias normalmente são mais tranqüilos, sobra mais tempo para a leitura. É um bom momento para ler (ou rever) "Vinho & Guerra - os franceses, os nazistas e a batalha pelo maior tesouro da França", trabalho do casal de jornalistas e escritores norte-americanos Don e Petie Kladstrup, lançado no Brasil por Jorge Zahar Editor. O nome já diz tudo. O livro trata do que aconteceu à indústria vinícola na França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Em suas 354 páginas vêm à tona assuntos sensíveis até hoje para os franceses, como a colaboração com o inimigo. Mas o que predomina são as histórias de amor ao vinho e de como alguns vinhateiros apaixonados e ousados fizeram de tudo para enganar os alemães e evitar que eles levassem para o III Reich seu maior tesouro, o estoque de garrafas das grandes safras.

Para quem gosta de vinho, é uma delícia encontrar a cada página nomes conhecidos e respeitados no mundo vinícola, como Romanée-Conti, Pichon Lalande, Lynch Bages, Drouhin, Hugel, Moët & Chandon e outros. Muito já se escreveu sobre a ocupação da França pelos nazistas. Ainda assim, o casal de jornalistas norte-americanos descobriu dentro do universo da Grande Guerra uma saga quase inexplorada pelos historiadores. A descoberta aconteceu por acaso. Don e Patie Kladstrup contam que em 1998 estavam no Vale do Loire entrevistando o prefeito de Vouvray, Gaston Huet, para uma reportagem sobre o polêmico plano do governo francês de escavar um túnel através da região, para a passagem do TGV, o trem de alta velocidade. Temendo prejuízos aos vinhedos locais, os vinhateiros eram contra o projeto. Na conversa, o prefeito Huet lembrou que não seria a primeira vez que teriam de lutar para proteger seu vinho, recordando o que acontecera 60 anos antes.

Percebendo que ali havia uma ótima história, os jornalistas resolveram saber mais. Em três anos de pesquisas, leram tudo o que havia sobre a época e ouviram dezenas de depoimentos de testemunhas dos acontecimentos. Não foi um trabalho fácil. Apesar do heroísmo da Resistência, pairou sobre muitos franceses a suspeita de tentar ganhar dinheiro negociando com os nazistas. Como se isso ajudasse a esquecer o que acontecera, uma lei destinada a proteger a privacidade das pessoas na França foi utilizada para lacrar os documentos que tratavam de colaboracionistas.

No fim, Don e Patie Kladstrup conseguiram resgatar os principais fatos, contando com a ajuda de muitos vinhateiros, hoje octogenários, e de seus filhos, que eram crianças naquele tempo. Além dos relatos pessoais, eles lhes abriram os arquivos de família e permitiram retratar a verdadeira epopéia que viveram. "Vinho & Guerra" não é nenhuma maravilha literária, e às vezes os autores se perdem em detalhes sem muita importância. Mas é um relato com muitas histórias humanas, que se lê com prazer. O original em inglês saiu em 2001. O lançamento da edição brasileira, com tradução de Maria Luiza Borges, foi feito há alguns meses.

Como o universo da guerra e da vinicultura na França é muito amplo, a narrativa é conduzida principalmente pela trajetória de cinco famílias ligadas ao vinho, uma em cada região vinícola do país: os Drouhin, em Beaune, na Borgonha; os Miaihle, dos Chatêaux Pichon-Longueville, Siran, Coufran, Dauzac e Citran, em Bordeaux; os Hugel, de Riquewihr, jóia medieval da Alsácia; os de Nonancourt, ligados às casas Lanson Père et Fils e Laurent-Perrier, na Champagne; e os Huet, em Vouvray, no Vale do Loire. Cada uma dessas famílias lutou a seu modo para impedir o saque das caves pelos nazistas, assim como muitos outros o fizeram. Quem exprimiu melhor o heróico esforço de salvamento de suas jóias mais preciosas talvez tenha sido Claude Terral, dono do lendário restaurante parisiense La Tour D'Argent. "Ser francês significa lutar por seu país e pelo vinho do seu país", disse ele, ao mandar esconder atrás de uma parede falsa as melhores 20 mil garrafas de sua magnífica adega, especialmente os tintos da notável safra de 1867.

VINHO E GUERRA
Autor: DON E PETIE KLADSTRUP
Editora: JORGE ZAHAR EDITOR
Pags: 254

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