lunes, 15 de noviembre de 2010

Documentos mostram que EUA acobertaram fugitivos nazistas

A história secreta da operação caça-nazistas do governo dos Estados Unidos revela que os serviços de inteligência americanos criaram no país um verdadeiro porto seguro para oficiais do 3º Reich e seus aliados após a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o jornal "The New York Times", um relatório de 600 páginas, compilado em 2006 por funcionários do Departamento de Justiça americano, mostra que notórios integrantes do regime de Adolf Hitler tiveram vistos de entrada nos Estados Unidos mesmo quando seu passado era conhecido.

Os documentos sugerem, ainda, que os americanos acobertaram esses oficiais durante as buscas tardias de mais de uma dúzia de fugitivos nazistas - como Joseph Mengele, o chamado Anjo da Morte de Auschwitz, cuja amostra de cabelo ficou guardada durante anos numa gaveta do Departamento de Justiça.


Décadas de confrontos com outras nações sobre o destino de criminosos de guerra nos EUA e no exterior vieram à tona, causando embaraço em Washington.

Desde 1979, 300 oficiais barrados

Segundo a reportagem, o Departamento de Justiça tentou ocultar por quatro anos o material que detalha os erros e acertos de advogados, investigadores e historiadores do chamado Escritório de Investigações Especiais (OSI, na sigla em inglês), órgão criado em 1979 para deportar fugitivos nazistas.

Há relatos de divisões dentro do governo americano sobre os esforços e implicações legais em confiar no testemunho dos sobreviventes do Holocausto. Uma das revelações mais contundentes, diz o "Times", é que o envolvimento da CIA com esses homens teria acontecido por acreditar que eles podiam prover informações de inteligência relevantes no pós-guerra.

"Os EUA, que se orgulhavam se ser um porto seguro para os perseguidos, transformaram-se, em alguma medida, num porto seguro para os perseguidores também", diz um trecho.

Mais de 300 nazistas foram deportados, tiveram sua cidadania cassada ou foram impedidos de entrar nos EUA desde a criação da OSI. No entanto, a descrição da ajuda a outros é contundente. Um dos beneficiados foi Otto Von Bolschwing, aliado de Adolf Eichmann, que ajudou a criar o plano para "limpar a Alemanha de judeus".

Memorandos da CIA mostram que, em 1954, agentes americanos questionavam o que fazer caso ele fosse confrontado sobre seu passado: "negar ou explicar com base em atenuantes". O Departamento de Justiça tentou deportar Von Bolschwing apenas em 1981 - ano em que morreu.

Outro acobertado pela inteligência foi o cientista alemão Arthur L. Rudolph, levado aos EUA em 1945 por sua experiência à frente da fábrica de munições de Mittelwerk, na Operação Clip de Papel, programa que recrutava cientistas da Alemanha nazista. Os documentos mostram altos oficiais americanos, em 1949, exigindo que a imigração permitisse a volta de Rudolph aos EUA após uma visita ao México "devido aos interesses nacionais".

Fonte: Jornal O Globo, 15/11/2010

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